O meu pai. Nunca escrevi nada sobre o meu pai. Talvez porque sempre insisti em manter uma distância entre nós. O meu pai ocupa um espaço complicado na minha vida. Foi ele a razão principal para eu ter decidido aos 17 anos tirar um curso fora da Madeira. Foi ele também a razão para quando eu terminei o curso, ter permanecido por Lisboa. O objectivo foi sempre não estar de forma permanente no mesmo espaço que ele. Porquê? Porque eu e ele não conseguimos estar em paz mais do que alguns dias seguidos. Porque ele efectivamente não me conhece e penso que tem medo de começar a conhecer. E eu tenho medo de me dar a conhecer, provavelmente por ter uma quase certeza que ele iria condenar e julgar a filha de que tem.

Desde sempre que eu sou a menina do meu pai. O meu pai fez e faz tudo por mim. Basta eu pedir. E basta fazê-lo uma vez. A resposta será sempre sim. Tudo para a sua menina. A minha terapeuta disse-me, certa vez, que o meu pai tinha sido o meu primeiro amor. E desta forma, percebeu-se o complexo de Édipo vivenciado por mim durante tenra idade, em que o meu pai era tudo para mim e a minha mãe era rejeitada. Durante anos, foi assim. Depois por uma série de situações, houve uma inversão e a minha mãe ganhou o papel que hoje em dia ainda mantém, o de base estrutural na minha vida. Disse-me a terapeuta que tal como o meu pai foi o primeiro amor, também foi com ele que sofri as primeiras desilusões. Desilusões essas que viriam marcar toda a minha existência até então. Daqui resultaram também algumas conclusões relativamente à minha estrutura emocional, à independência forçada, à fobia pelas relações e a protecção exacerbada que trago por mim mesma.

O meu pai foi um bon vivant, com muitas mulheres e uma vida boémia. Veio para Lisboa com 17 anos e tinha um nome pelo qual era conhecido na noite. Casou-se duas vezes. Uma primeira com a mãe da minha irmã. E uma segunda com a minha mãe. Apaixonaram-me ela era menor. E ele era 17 anos mais velho. Viveram um relacionamento já ele estava separado mas não divorciado da primeira mulher. A minha mãe mudou a sua vida, os seus objectivos por ele. Tinha ela 19 anos na altura. Adaptou-me a uma vida que não era a que ela queria por ele. E ele nunca soube dar-lhe o retorno. Poderia ter sido uma história de amor feliz. Não foi.

Eu acho que aquando do meu nascimento o meu pai mudou. Não sei se para melhor. Não sei mesmo. Tornou-se caseiro, deixou-se de viagens e penso que de outras mulheres. Dedicou-me à sua menina. Ia buscar-me todos os dias à escola. Levava-me a passear. Ensinou-me a andar de bicicleta e a nadar. Levava-me também ao futebol. E dava-me tudo o que eu queria. Lembro-me que almoçávamos todos os dias juntos. Durante anos a nossa relação foi feliz. Depois eu cresci e na minha vida começaram a entrar amigos e amigas. E a entrada na adolescência foi o que nos afastou. Porque eu queria fazer o que os amigos faziam e ele achava que era melhor não. Sempre uma protecção excessiva. Ou não. Porque eu era a sua luz. A sua menina. Nunca o perdoei, confesso. Nunca o perdoei, ter-me impedido de viver. Nunca o perdoei, o facto de durante aquelas anos antes de vir para Lisboa, me ter sentido presa e sufocada. Nunca o perdoei, o não conseguir dizer-lhe as coisas. As que realmente seriam importante para ele saber. E hoje em dia sei que não o perdoo por não me conhecer. Desisti dele há muito tempo. Mas é o meu pai. E eu sinto amor por ele.

Quando eu cheguei a Lisboa, eu fiz tudo o que de "errado" poderia haver. Tudo o que ele condenaria, decerto. Saía todos os dias à noite. Fumei charros atrás de charros. Embebedei-me. Estive com muitas mulheres. Não ia às aulas e dormia imenso. Tudo isto foi feito às escondidas e sem o seu conhecimento. Tudo isto foi feito provavelmente para o chocar. Tudo nas suas costas, porque faltou, como ainda me falta, a coragem para dizer-lhe tudo o que tenho para dizer. Também sei que o mais certo é que ele morra primeiro. E então terei de arranjar outra forma de falar com ele.

Nestes dias que passei com ele, tomei consciência de uma coisa que me aterrorizou. Em certas e determinadas alturas eu comporto-me como o meu pai. O tom de voz muda. as feições alteram-se. O comportamento. A postura. Eu torno-me o meu pai. Tal e qual. Eu torno-me naquela pessoa que eu não perdoo. Que me fez ter sentimentos de revolta e agressividade durante anos. Aquela pessoa que sempre que eu me meto em algo novo, me acusa de desistir. "Vais fazer isso porquê? Já sabes que nunca levas nada ao fim, vais desistir". Isto perseguiu-me durante a vida toda. Quanto às dietas, ao desporto, ao inglês, ao teatro. A tudo. Sim, eu nunca levei nada ao fim. Obrigada pai. Para além de não me conseguir conciliar contigo ainda tenho de me rever em ti. Foda-se.

O meu pai continua a fazer tudo por mim. Veio a Lisboa este mês e trouxe-me o carro dele para trocar com o meu. Porque o dele supostamente é melhor para eu conduzir (confere). Antes da viagem, levou o carro à oficina e tratou de tudo. Durante alguns dias não andou com o carro. Porque estava todo limpo e queria que eu o visse assim. Se nota que eu preciso de alguma coisa, ele de seguida apenas diz "não te preocupes com nada.". E de certa forma, isso descansa-se e eu consigo respirar fundo. Porque sempre que eu precisei ele estava lá. Isto com as pequenas coisas mas que também pode ser grandes. Depende sempre da importância a que damos às coisas na altura.

A primeira vez que adoeci em Lisboa, liguei-lhe. Disse-lhe que tinha 38 de febre e que me doía a garganta. A resposta foi " O pai vai já apanhar o avião para Lisboa". Não apanhou porque a minha irmã veio buscar-me e durante uma semana cuidou de mim. Foi e é um pai presente, preocupado com as minhas necessidades. Não é um pai que me conheça. Para ele serei sempre aquela pequenina vestida com o equipamento do marítimo e com um cachecol do Porto, não esquecendo a bandeira que eu nem conseguia aguentar. Tinha eu uns dois anos. Lembro-me tão bem disto porque vi muitas fotos. E para ele, haverá sempre a certeza que o que fez e a forma como agiu foi para o meu bem. Sempre para o meu bem. Mesmo que lhe escape as consequências das suas atitudes. Não serei eu a dizer-lhe. Há algum tempo que cheguei à conclusão que ele deve partir deste mundo com a imagem de uma filha quase perfeita. Que teve sempre um comportamento impecável e que nunca o desiludaria. Esta imagem foi criada desde muito nova. Já não me pesa. Quando estou com ele aparentemente sou mesmo perfeita. Aparentemente. Não faz mal. Afinal de contas, ele foi o meu primeiro amor.


*escrito algures em 2010 e relembrado hoje




E não foi. <3

Não fosse a insatisfação constante, cicatriz omnipresente, eu saberia de uma forma mais plena o que é ser feliz.  Não fosse a razia, a fartura do que não há, as certezas desmedidas, a ilusão mórbida de sonhos destoados do real, palpável, eu saberia melhor encabeçar a lista dos que se afirmam completos e cheios. Em companhia ou solidão. bastar-me-ia ser menos eu para aprender a tomar a vida e abrir lhe a porta dos meus dias, das crostas de passados sempre presente. verdadeiramente da matéria que fui feita.

(custa-me perceber que a perfeição não existe. Custa-me que não consiga parar esta exigência. Esta angustia do mais. Não consigo parar, sabes? E dói-me demasiado não me sentir completa tempo suficiente para me habituar, para serenar nesse estado. A insatisfação custa-me o melhor da vida. )


*Escrito em modo de desabafo para a minha gémea alma, à entrada desta madrugada.

1º Parágrafo

1º Parágrafo

Ninguém poderá antever o primeiro poema entre dois olhares. Não. Apenas existem rascunhos dos momentos anteriores. Papel escrito por pensamentos. Vontades. Expectativas. Inquietação. Mas o poema. O poema só será escrito no preciso segundo em que se dá o conhecimento.

Mas permite-me que te fale no que aconteceu antes. Na inesperada visita que fizeste à minha vida. Deixa que te conte a confusão. O turbilhão. O sorriso. O tempo ocupado por ti. As palavras que se formaram por entre as nossas conversas. Por entre o som da tua voz. Diante de horas e horas. Dia e noite. Madrugada acordada por nós. As viagens em que te acompanho no teu carro. As viagens em que me acompanhas para casa. As noites em que o dia acontece contigo. A tua permanência na minha almofada. Do lado direito da minha cama. A história que se timbra no ar frenético do Verão.

Não é no trunfo das palavras que se faz a frase do presente. Não é no habilitar do som arcaico dos sentidos que se cria a casa. A morada. O porto de abrigo em terra. É sim no dedilhar da entrega. Do hábito que é novo e presente. Do hábito que renomeia outros anteriores. Que é sentido como a chave polivalente que se promete no entrar. Na abertura da porta. Da janela sobre a alma rebelde. Sobre o estado crescente dos nossos dias. E agora, na completude do conhecimento digo-te – Caminha. Caminha comigo.

Não me assusta a chuva. Os trovões. As poças de água. A distância. Os bloqueios fermentados do ontem. Não me assusta o teu medo. O teu receio. Não me assusta o tempo que possa demorar até sentir o abraço em pleno. A divisão do beijo. A reminiscência do teu corpo no encontro do meu. A inquietação da incerteza que paira por nós. Porque eu sinto. Eu divago. Eu quero. E por querer persisto e procuro. Avanço com os olhos abertos. Mesmo que por momento, pare. Olhe novamente. E dê o passo. Mesmo que nos limites do que sou, exista a impaciência. O querer já. O querer agora. O querer tudo. Mas neste caminho eu aguardo. Por acreditar. Que é possível. Que nada nos impossibilita de lá chegar. E continuo. Sem medo do estilhaço. Sem medo do que possa acontecer.
Mostro-me. Mostro-me a ti para que te permitas conhecer-me. Para que consigas entender quais os dias em que sou doce. Ou ácida. Ou indigesta. Quais os momentos em que insurjo e te surpreendo. Quais os momentos em que fujo e perco-me pelo labirinto do que sou. Qual o segundo em que pego numa incerteza e a recrio certeza. Desnudo-me para que conheças como cresci. Que apreendas a minha história antes de ti. O meu percurso. Os erros. As volatilidades sentidas. Os sentires ancestrais. Tudo o que me fez ser quem sou. A menina que te procura e se aconchega no teu peito. A mulher que observa até que possa concluir. A menina que não gosta de trovões e não pára quieta. A mulher que procura pelos instintos da pele. A menina que vagueia perdida pelos dias. A mulher que te consome. A menina que acredita e confia. A mulher que é descrente e que se sente cansada. A menina que sorri para ti. A mulher que te provoca. A menina que é mimalha quando a noite cai. A mulher que te olha nos olhos e te lê. A menina que te dá a beber água pelo jarro que é copo e não desiste da sua ideia. A mulher que te dá o alimento pelas palavras.
A menina e a mulher. Menina-mulher que sobe pelos escombros e te agarra. Para que fiques. Para que vejas. Para que não tenhas medo. Para que acredites. No mais do mais que existe no tudo. Sim. A menina-mulher que te entrega a mão para que caminhes. Para que olhes, apreendas. Reconheças o que está diante de ti.

Ofereço-te o poema que trago em mim.
A luz e a escuridão que criam raízes no meu mais profundo.



(escrito algures em 2009)




. . .



And then two words in a image describes you and I together. ;)

As histórias e as de qualquer coisa.




Gosto de histórias bonitas. De paixão, de Amor. Gosto que me contem os pormenores. A forma como se conheceram. Como tudo se desenrolou. Que me descrevam sensações. Momentos. Fixo-me nos pormenores. É ao que dou mais valor. Ouvi poucas histórias de Amor que me tivessem marcado. Talvez, porque entendo serem raras. Existem sentimentos raros. É a ideia que tenho. Gosto que assim se mantenha.

Tenho confesso pudor por histórias rascas. Histórias que se apelidam de Amor, mas que na verdade são apenas uma corrida desmedida por esse sentimento. São, a meu ver, histórias de ilusões. Apenas e só. As pessoas tendem a querer sentir tudo. A viver histórias encantadas por terem crescido a ouvi-las. A verem no cinema. Tomaram essas histórias com ponto de partida na felicidade. Não serei hipócrita ao ponto de não considerar que a vida será mais preenchida, quando temos algo que partilhamos com alguém. Seja com quem for. Eu considero a partilha algo bonito e necessário. E que nos faz crescer enquanto pessoas. É algo memorável. Mesmo quando existe um ponto final. Mas e os limites? Uma partilha só o será em todo o seu esplendor se verdadeira. Se na sua base existir verdade. Se não, é só um saco de lixo que nos esquecemos de colocar no contentor.

Posso admitir que a minha descrença vem muito dos outros. Do que eu vejo os outros a viver. Assusta-me a leviandade de algumas relações. Custa-me as coisas que se dizem da boca para fora. É algo que me aborrece, na verdade. E revolta-me. Faz-me pensar que muita gente não tem um dedo de testa e esqueceu-se do mapa onde se situa o coração. Ou o cerne dos sentimentos. Aliás, algum dia terão de acordar e perceber que provavelmente a maior parte do que viveram, resume-se a vazio e a perda de tempo. Sim, há quem prefira isso a sentir-se bem sozinho.

Eu sou uma idealista. Prefiro idealista a romântica. Mesmo que tenha uma seta cravada que me fez travar um mundo de coisas e situações. Tornei-me expert nas palavras para conseguir perceber a veracidade do que me dirigiam. Isto custou-me muito. Mas desde quando é que se prova alguma coisa sem gestos? Give me a break.

Lembro-me que aos 16 achava uma coisa. Era demasiado crédula nesta coisa dos sentimentos. E ingénua. Depois acordei para a vida e tornei-me suja. Suja, no sentido, de ter sido tocada pela vida infame. Há dois anos, lembro-me de estar apaixonada e de ter amado. E nesse ponto,  querer e desejar tudo com uma pessoa. Não me reconheci, na altura. Não me soava a mim própria. Parecia que dava passos numa nuvem. Era tudo demasiado bonito. Mas de vidro. Por isso, na primeira oportunidade, foi tudo ao ar. Fiquei rodeada de pedaços de vidro. E feri-me, como aos 16 anos. Vesti-me de aço. E repudiei todas essas formas de gostar e de estar com alguém. A partir daí, fui vivendo situações. No entanto, a bem escrever, nunca consegui libertar-me do medo. da descrença. Acho que estou mais fóbica do que nunca. Relativamente, a sentimentos. Ao crescente dos sentimentos. A entregar-me a alguém. A dar nomes às coisas. A assumir uma posição. Ao Assumir de alguém num sentido mais sério. Ou menos, volátil.

Não tenho problemas em dizer "Ando enrolada com aquela pessoa" "Ando a foder com esta ou aquela". Isto não me choca. Digo com toda a liberdade. Faz-me sentido. Habituei-me a não colocar nenhum peso nesse tipo de envolvimentos. São-me fáceis. Não me retiram nada. O que é dado na verdade não é dado. Porque nada sai de mim. Sim, talvez o tempo despendido.

O problema existe quando não é só corpo que existe. Não é só pele. Tesão. Orgasmo. Prazer.

O problema passa a existir quando conseguimos dizer que aquela pessoa é mais do que alimento físico. É intelecto. É emocional. É presente. E faz parte dos nossos dias porque queremos que faça. Porque é tão intenso que bloqueamos a nossa mente de racionalidade. Porque não queremos que nada nos impeça de viver o presente. Porque é esse acumular de momentos que nesta fase nos faz vibrar de contentamento.


Não deixei de estar fóbica. Não deixei de ficar em pânico.
Continuo com as amarras de sempre.

E no entanto, há tanto tempo que não me sentia tão livre para viver algo que sou tão eu.

"When chemistry appeares you will notice the differences immediately, and you will not want to leave."



Go home...




Da boa disposição que por aqui reina :P

..




Provavelmente, nunca o saberás. Nem eu terei a coragem de te dizer. Aprendi a calar muitas coisas. É mais seguro.  Mas isto, este reencontro, o jogo que tem sido construído. O reconhecimento da identidade. As parecenças. As diferenças. O encaixe. A química que é imensidão. Tudo isto, devolveu-me uma parte de mim. Que eu achava que havia perdido. I'm feeling so fucking alive. Alive!


Seja o que for, dure o tempo que durar, já valeu a pena.

26-27





Estou a um dia de fazer 27 anos. A três anos dos 30. A ideia de fazer 30 anos deprime-me. Eu não quero. Quero continuar a ser miúda. Nos restaurantes já me perguntam "A senhora também deseja vinho?". É horrendo. Eu corrijo e digo "A menina, se faz favor". A minha esteticista ontem disse-me: tens 24, não é?. Eu sorri. Sim, sim ainda tenho 24 anos. Claro que não. Disse-lhe a verdade. Afirmou que sempre achou que eu tinha 24 anos. Isto basicamente porque me conheceu nessa idade. Entretanto, três anos se passaram. Eu gosto que o tempo passe. Porque se ele passa, então irá concerteza levar com ele as coisas más. As coisas que queremos esquecer. Mas o problema, é que coisas boas também irão passar. E aqui, este ponto certeiro, é que me incomoda. Sim, eu sofro por antecipação. Sou a dramalheira da antecipação. Sinto as perdas antes de as mesmas aconteceram. Não gosto de dramas, aliás, abomino. Mas os dos outros. Os meus são preciosos. Existe uma parcela de egocentrismo que nunca me vai abandonar. E ainda bem. É como se fosse uma segurança. Penso que é fácil de entender.

Eu sempre quis fugir a responsabilidades. às contas que aparecem todos os meses. à tomada de decisões. à pressão. às expectativas. Neste momento sou independente financeiramente e só apetece voltar a ser dependente dos meus pais. Eu nunca quis ser adulta, aqui me confesso. Por isso, sempre adorei que me tratassem por "miúda". Esse pronúncio é um fetiche para mim. Há algo em mim que se arrepia, quando me tratam assim. Não pode ser qualquer pessoa, é verdade. E há formas de o dizer. Sou esquisita, bem sei. Com 27 anos, eu penso que quero filhos. Mas depois penso nas responsabilidades, e é como se desistisse da ideia. É como se a chegada dos trinta nos fizesse pensar numa data de coisas que queremos e ainda não aconteceram. é a mesma coisa com o amor. hoje em dia não consigo que me falem de amor. não consigo. porque não o consigo visualizar em mim. vejo-o demasiado longe. está longe. entendem? então se me falam de amor, eu paraliso. devo ficar branca. e cheia de nervos(inhos). Acho que interiormente, instala-se o pânico. Se me falarem de paixão, conseguem que eu me permita andar de mão dada. mas o amor, não. é como se existisse um bloqueio enorme que me impede de sequer pronunciar essa palavra. essa aberração emocional. que ao mesmo tempo que nos dá uma felicidade desmedida, nos morde até aos ossos. 

Amanhã vou estar feliz. Sei disso, porque estarei com pessoas importantes. E depois de amanhã, a mesma coisa. Descobri há pouco que o meu dj do <3 vai pôr música no meu bar favorito. Só me falta dar saltinhos de alegria. 

Não é fácil permitir que a felicidade entre. Mas eu hoje, ainda com 26 anos, consigo afirmar que me sinto Feliz.







"We are all alone, born alone, die alone, and -- in spite of True Romance magazines -- we shall all someday look back on our lives and see that, in spite of our company, we were alone the whole way. I do not say lonely -- at least, not all the time -- but essentially, and finally, alone. This is what makes your self-respect so important, and I don't see how you can respect yourself if you must look in the hearts and minds of others for your happiness."

Hunter S. Thompson,
"The Proud Highway: Saga of a Desperate Southern Gentleman, 1955-1967"

. . .





Estou para escrever sobre isto há algum tempo. Acho eu. Penso que sim porque em certas altura consome-me. No presente momento, consome-me. E ao mesmo tempo que preciso de resolver isto (haverá alguma altura da nossa vida em que deixamos de resolver o que quer que seja? Sim, quando morrermos), preciso de escrever. Escrever tem sido o primeiro passo. Supostamente, eu estou bem. Estou diferente, estou melhor. Eu acho (ou talvez não), os que me rodeiam também. Eu faço por estar melhor. É uma luta, bem sei. Mas eu preciso de ficar bem. Não sei de quê. Não sei qual o meu problema. Ainda não sei. Sim, eu complico. Se calhar é isso. Mas então alguém que me explique o que é isto que tenho dentro de mim e me faça o favor de arrancar. Porque se eu não entendo, eu não o consigo resolver.

O que sinto. Posso começar por aí. Eu sinto uma perda. Ou Várias. Mas é isto que tenho vindo a sentir ano após ano. Perdas, desilusões, perdas. E estou cansada. Demasiado. Porque perder o que não nos faz bem, não devia ser mau, certo? Pois. Então e isto que eu sinto? Como se grande parte da minha vida fosse um funeral. Foda-se.

Sempre fui solitária. Os amigos não enchiam a palma da mão. Sempre percebi que ao longo dos anos as amizades vão-se perdendo. Eu foi perdendo amigos à medida que eles iam-se metendo em relações. Depois as relações terminavam, e eles voltavam. Mas eu já não estava lá. Porque tinha decidido partir. Não sou boa a esperar. Não sou boa a estar ali à mão. Por mais que já tivesse desempenhado esse papel. Depois os amigos quando voltam, dizem olha já aqui estou. E eu olhava e percebia que já não havia espaço para eles. Porque eu avancei. Também se avança nas amizades. O tempo faz esse papel. Eu fui-me habitando. Depois passado anos, esses tais amigos lembram-se e dizem que têm saudades. E eu respondo que também tenho. Sim dos tempos idos, mas no agora o que há? nada. memórias, apenas.

Lembro-me que quando tive a primeira relação de namoro (e única?) afastei-me de todos os meus amigos. Deixei-me ser engolida nessa coisa que são os primeiros tempos de um namoro. Os constantes mimos. O sexo mais de uma vez por dia. As palavras bonitas (e tantas vezes vazias). Os planos. Essas coisas. Quando a minha relação acabou, os amigos mantiveram-se. Com a excepção de alguns. Prometi a mim própria nunca mais deixar a minha vida por mais ninguém. Até hoje cumpri. Mas também, nunca mais consegui ter uma relação normal com ninguém. A não ser que se considere "normal", as fodas de uma noite, os casos, as coisas mal resolvidas. Enfim. Algo do género.

Este ano senti a perda (desilusão?) de um dos meus melhores amigos que se apaixonou, começou a namorar e desapareceu. Sei que já não está a namorar. Mas não o voltei a ver. E sei que ele voltará porque as mágoas têm de ser contadas a alguém. Ele voltará e eu irei recebê-lo porque não passou tempo suficiente para eu achar que já não há espaço. E ele estará presente até que comece a namorar de novo. (ou eu? Também há essa hipótese. Mesmo que eu não consiga acreditar. Racionalmente. Porque emocionalmente acredita-se até ao fim.) A amizade poderá ser entendida como o cais de regressos e partidas? Pode.

Pela primeira vez na vida tenho um grupo de amigas a sério. A que chamo família. Durante 1 ano e meio fomos todas solteiras com intervalos de coisas das acima referidas. Mas nunca nos afastamos. Foi como se uma promessa tivesse sido feita. Na verdade não foi. Mas a ligação era forte demais. É como se assim se entendesse. Eu nunca tive um grupo de amigas, portanto, tê-lo fez muito feliz. Foi como se pela primeira vez na vida estivesse preenchida em algo. Sentirmos-nos preenchidas é do mais bonito que se pode sentir. Foi a primeira vez que o senti. Por isso, chamei de minha família.

Neste momento, sinto uma perda. Como se me tivessem arrancado parte de mim. Porque a vida mudou. Estamos perante uma fase de mudança. E mudança não tem de ser mau. Não tem. Mas a adaptação é horrível. E eu depois tenho esta coisa horrível de antecipar cenários. E o que eu antecipo não é bonito. Acolhedor. É solitário. As relações mudam as amizades. O tempo dedicado à amizade passa a ser curto. Demasiado curto. As ligações mudam. Porque de repente, os nossos amigos deixam de ser apenas eles. São eles e mais uma pessoa. E tudo fica diferente. Acho que no fundo, queremos acreditar que tudo irá permanecer igual. Mas não, não é assim. Tudo muda. Depois é preciso. Adaptar. Ajustar. E entender que nada deve ser tomado como garantido. Aceitar não é fácil. Não é. Sorrir quando se sente uma perda, muito menos. E depois ter as memórias. E perceber, que o presente mudou. E o futuro ser ainda mais diferente.

Nao estava preparada para ter de voltar a mim tão cedo. Não estava. Porque já não sei como se faz. Já não sei como fazer para me sentir bem sozinha.

(E se eu ficar para tia (as probabilidades são muito altas), nem pensem que vou cuidar dos vossos filhos todos)

Isto.




Derek: you were like coming up fresh air. it’s like i was drowning and you saved me. it’s all i know.

Meredith: it’s not good enough.



Recuso-me a escrever mais sobre este assunto, em particular. Recuso-me. Porque falar/escrever sobre isto faz com que me considere muito burra e sem respeito por mim própria. O que não é verdade. de todo. Portanto, tenho feito um exercício que é desculpar-me com o facto de ter tido uma incapacidade temporária que demorou tempo a mais.  Foi isso. às vezes, acontece aos seres mais iluminados. E aconteceu-me a mim. Já é de conhecimento geral que tenho uma panca por pessoas que não me dão prioridade. E que têm mais do que fazer, do que para além de falarem, agirem em conformidade. Sim porque as pessoas são muito ocupadas e não há tempo para nada. E depois há o stress e mortes por todo o mundo, e a crise. Enfim. Não há tempo para agir em conformidade com as palavras que ousamos (sim, ousamos) dizer a alguém. Não há tempo nem vontade nem tomates. ok? Sim, eu disse mesmo tomates. Mas existem situações que chegam a um ponto tal de extremidade, que quase seria necessário fazer internamentos face ao risco de contágio. De cobardia, medos e outros da mesma família.

Portanto, isto hoje será uma excepção. Um pequeno reparo. Que tem algo de engraçado. Porque me faz rir. Eu devia querer esmurrar alguém. Mas não. Eu não sou assim tão agressiva. Eu só consigo rir. Porque eu sou muitooo má e certas atitudes dos outros fazem-me rir. Muito.

Avançando:
Quando dizemos a uma pessoa: é agora. se vais fazer alguma coisa é agora. não pode haver mais desculpas. já as coleccionamos há muito. é agora. Para ontem. Já.

O que deve a pessoa fazer?
Aqui temos muitas opções:
A) agir
B) fugir para a islândia
C) Falar com uma das melhores amigas da outra personagem (eu, portanto)
D) meter-se num buraco
E) ter medo medo medo medo
F) duplicar o crédito em cobardia
E) duas ou três das anteriores e dizer "então vou deixar-te em paz".

(Eu estou a escrever isto e a imaginar-te Piu a expressão que deves estar a fazer. :) )

Também pode ocorrer não existir correspondência entre línguas. Sei lá. Pode ocorrer. Mas não é o caso.

O reparo era este. A excepção era esta. E agora sim, agradeço que me deixes em paz de uma vez por todas. 

With no fucking returning! (pode ser que entendas melhor nesta língua)



Mais vale escrever a última conclusão que eu tirei no campo de batalha. Não vale mais a pena adiar o momento. Chega. Dizê-lo não me fará parar de fugir das relações e dos grilhões. Não me fará diferente ou menos complicada. Não me fará deixar de provocar. Não me fará parar de enviar a imagem de que eu quero é foder e estou a milhas de sentimentos mais profundos. Não me fará gostar e desejar menos a minha independência e liberdade. Não. A minha natureza não se altera. O facto de eu gostar pouco de relações "normais" também não. Porque eu mudei mas continuo igual. Basicamente é isso. Não torna o facto mais tranquilizador ou sereno. Não. Duvido que alguma vez eu deixe de viver num campo de batalha. A minha intensidade é assim. Faz-me ser assim.

Mas sim, os anos passaram, e eu mudei. Bem como as minhas prioridades. Já não consigo ter sexo só porque acho piada. Porque já não me envolvo. Já não me dedico. Já não consigo estar ali entre peles, beijos e afins. Já não consigo fornicar como dantes. Por antes, fornicar era tudo. Era o expoente máximo. Agora não. Já não consigo. Tentei. Tentei uma última vez e fui duro acordar. Porque finalmente entendi que preciso de mais. Até na cama.

Portanto sim, assumo: preciso de me apaixonar (mas foda-se, ser correspondida também). E não, já não acredito na paixão ao primeiro momento. Mas acredito na ligação, química ao primeiro instante. E sim, bastará isso para conseguir ir em frente. Mas menos, não. Porque já não consigo entregar nada só por tesão ou atracção.

E ao mesmo tempo que tomar disto consciência  me irrita, ao mesmo tempo faz-me sorrir. Porque eu mudei, e afinal não é assim tão mau.
 
 


Conversa de hora de almoço.

Eu: Durante anos usei o meu corpo e usei o corpo de outras pessoas por causa dos bons momentos. Por causa, do desejo, do tesão. Da liberdade. Da ausência de amarras. Por achar que isso é que era viver. Que os momentos cheios de pele eram o verdadeiro viver. Fugi de tudo o que me poderia viciar. Não a pele. Mas os restantes membros. Fugi para não conceder a ninguém o poder de me despedaçar. Corri, sabes? Corri durante anos. Nove anos, ao certo. O primeiro momento que me recordo foi a dor da primeira desilusão. Não foi uma desilusão qualquer. É bom que se saiba. Já te falei disto, uma vez. A primeira desilusão, os primeiros estilhaços do coração. É a partir daqui que a vida nos invade de forma diferente. Menos suave e mais agressiva. Durante anos, agi como que a vingar a dor que me provocaram. Não resultou. Nem o facto de ter ressuscitado me deu uma nova liberdade. Ou um novo coração. Porque nada volta ao inicio. As marcas ficaram para sempre alojadas. Ninguém se engane. Tudo muda. Por mais que neguemos. Gastei-me. Ao ponto de não saber identificar de forma certa os sentimentos. Ao ponto de quase não sentir nada no corpo. O que sinto é fruto da minha imaginação. Gastei o corpo e agora não sei o que fazer dele. Como o entregar. Como usufruir do que ele me tem para dar. Portanto, é como se eu e ele não nos reconhecêssemos. Ele culpa-me. Eu não o identifico como meu. E a única coisa que hoje sei é que não valeu a pena. O vazio que ficou, é demasiado grande para o consertar. Não sei como o fazer. Há um intermédio infalível entre o corpo e o coração. E a mente, a mente deixou de controlar o que quer que seja.

Ela: Tu és um mundo. Tu cuidas dos outros. Tens, por acaso, percepção de quanto é que tu cuidas dos outros? Tu és tudo, a tua polivalência é o que de melhor e pior trazes em ti. Porque se tu és um mundo, as pessoas olham para ti, e não visualizam como tu também cais. Como tu também sofres. Como tu também precisas que cuidem de ti. Como tu tens igualmente necessidades. Como precisas de colo e de alguém que seja um mundo em ti. Sim, o que tu mostras de ti, afasta-te das pessoas. Elas deixam de te ver porque ocupas demasiado. É isso que eu vejo em ti. Ninguém pergunta a um mundo se ele está bem. Quem é que se iria lembrar disso? Ninguém. Desculpa, mas ninguém. Precisas de mostrar aos outros que tu também és humana. E na verdade, igual a qualquer pessoa. Permite-te.



*imagem retirada daqui


Pudesse eu.




Pudesse eu dizer-te que já não me ferve a tua memória. Que o pensamento de ti já não me entranha na pele como se fosse o teu toque. Que já não repito em silêncio tudo o que um dia me dirigiste. Que não reconstruo os momentos. As poses. Os diálogos. A entrega.

Pudesse eu jurar que os meus orgasmos já não teus. Que a minha cama onde nunca tiveste está limpa de ti. Que os passos controlam-se porque sim. Porque tem de ser. Porque outra escolha não se coloca. Quisesse eu engolir todos os sentimentos, como se fossem o meu prato favorito. Beber-te compulsivamente, como se fosses shots de TGV e cerveja. A perfeita combinação de um Sábado à noite.

Pudesse eu escrever isto tudo de forma sentida, e seria livre.

Em plenitude, livre de ti.
 
 

...










 Adoro a imagem. Discordo com a mensagem.








Nothing to lose.



É uma história minha. Tão minha como cada membro do meu corpo. Mas é preciso contá-la como se fosse uma história de terceiros. sem qualquer ligação a mim. Para que possa usar as palavras correctas, sem grande traço de ternura, ou emoção. Sim, contar esta história como se fosse uma história de um estranho. Sem qualquer pingo de sensibilidade. Não consigo. Assumo desde já o fracasso. É impossível expor esta história, sem que me emocione. Não choro. Mas emociono-me. O que me parece ser pior. Olhos molhados é uma vergonha maior do que lágrimas que caem. é como se me faltasse a coragem de chorar. O que seria pouco correspondente com a realidade, porque se há coisa que eu tenho, é coragem, Ou tomates. sempre gostei desta palavra. Na terapia, quando estava a contar as minhas últimas ligações físicas/amorosas/emocionais, contei esta história.  Lá fiquei com a puta dos olhos emocionados. Disse-me que na opinião dela, eu ainda não te tinha ultrapassado. Eu sorri. Expliquei que a porta estava fechada entre nós mas que as imagens do que havíamos partilhado (que convenhamos em espaço temporal foi tão pouco, mas de intensidade, não sei. classifico como arrebatador), continuava a visitar-me de olhos abertos e fechados. Uma merda, portanto. Mas com o pormenor de me fazer sorrir. Sou otária, é isso?

Depois ocorre-me perguntar-te se tens conhecimento que te comparo a todas as mulheres. O que é um horror, porque nenhuma delas és tu. O que me faz recordar aquilo que certa noite me disseste. Algo como que eu estaria léguas acima de ti. algo deste género. lembras-te? Isso foi  importante. Porque na altura eu julgava-me uma merda e tu fizeste-me considerar que provavelmente sempre seria alguém especial. Lamento, se não te dei a entender o mesmo. O quão eras especial em mim. Falo tanto e às vezes, acabo por calar, provavelmente o mais importante. Ou não. Eu disse-te tanto naquele e-mail. Foi como se me estivesse a despir lentamente, sem a tua ajuda. Foi horrível, confesso-te. Mas não me arrependo.

Há já algum tempo, que tu tens uma vida. Eu tenho outra. Nada de semelhante. Vemos-nos de vez em quando. Sorrimos. Trocamos palavras de circunstância em segundos. Acho que vou começar a contar os segundos. Continuo a foder-te com os olhos sempre que te vejo. às vezes, não é preciso ver-te. Basta imaginar-te. Posso estar a caminhar na rua e isso acontecer. Doentio? Se calhar, sou doente. Também, acontece-me ficar enternecida quando olho para ti, e vejo-me simplesmente a abraçar-te. apenas isso. Quando posso, faço por tocar-te. Que posso dizer? Há coisas incontroláveis. As minhas desculpas desde já. Poderia classificar-te como uma tentação. Ponto. Serias carne que me tinha deliciado mas que não voltaria a repetir. Houve um tempo na minha vida em que as mulheres eram peças de carne, e a classificação dependia do nível de satisfação. (isto foi horrível, não foi? mas mais directa, seria impossível. Para quem possa interessar, já não sou assim. Já não classifico mulheres nem as resumo a alimentação). Tu serias um número um. Enchias-me as medidas, que não são poucas. Superavas-te e acho que nunca percebeste isso. Devo lamentar? Pois.

Tivesses tu continuado como carne e teria tudo corrido bem. Tivesse eu ficado calada? Estupidez. Mais transparente do que fui, não podia. Acho que nunca me vou conseguir calar. Controlar, talvez. Já me controlo em tantas coisas. Seria mais uma, certo?

Supostamente, ia contar a história. Merda, sou tão confusa.

Prefiro, não contar.

Apenas posso dizer que não sei se saberia fazer as coisas de outra forma.

Poderia ter-te facilitado mais a vida, mas eu não faço isso. Eu complico. É a minha natureza.

Gostava de um dia acordar e achar que foste um erro. Confesso. No entanto, é impossível ter sido tão bom e ao mesmo ser um erro.

Não, não foste um erro.

Mas lamento que o prazo de validade tenha sido tão curto.

Ter-me-ia sido fácil decorar todos os caminhos, os planos e os cheios de tráfego, para chegar até ti. E é nesta medida que sei o quanto deixaste em mim.


Pronto. Era isto.




Existem dias em que a clareza de espírito nos invade. Em que percebemos que, por vezes, a palavra felicidade é demasiado grande para existir em nós, dia após dia. Percebemos também que a intensidade é uma coisa boa, mas tantas vezes vítima de incompreensão. Porque as pessoas não são iguais. Os momentos vividos muito menos. Provavelmente a grande lição a tirar, é que o melhor que poderemos algum dia retirar do que vivemos, é o facto de sermos apreciados pelos outros. E isto, tenho aprendido, é na verdade, algo muito simples. Ser apreciado, não exige um campo de batalha. A realização de grandes feitos. Bastará uma palavra certa no momento certo. Um abraço. Uma conversa. Um jantar entre amigos. A companhia. E a forma, como crescemos na vida uns dos outros.

Sim, às vezes isto não basta. Porque queremos tudo. Queremos ter tudo, sentir tudo. O nada soa-nos como algo desconfortável e pouco merecedor de atenção. E eu compreendo, aliás, quem não compreende? Quando sabemos da existência de um tudo. Quando vemos isso a ser vivido por outras pessoas. Naturalmente, que desejamos o mesmo para nós. Não queremos esperar. Porque a certeza da morte, é cada vez mais presente. O medo de não vivermos tudo o que queremos. A angústia que isso causa. A frustração. Sei isto tudo de cor. Queria não saber tanto. Porque viver seria um processo mais tranquilo.

Mas tantas vezes escrevi, que a felicidade era um exagero e o que importava reter, eram os momentos. Esses pequenos troféus que vão acontecendo de forma simples. E que nos preenchem, mesmo quando achamos que não. Eles fazem a diferença. E um dia, saberemos isso de forma esclarecida.

É isto que tenho vindo a adquirir. Este conhecimento quase palpável. Não que seja algo equilibrado ou sequer experimentado em pleno. Porque por mais que a racionalidade exista, não deixamos de ser seres emocionais. Portanto, a turbulência irá sempre existir. Saber lidar com ela e minimizar os danos, é outra questão. A aprendizagem faz-se a partir daqui.

Não, não estou a dizer que vou deixar de querer o tudo. Seria irreal, dizer isso. Também não vou dizer que vou deixar de ser intensa. Não é comportável. Continuo a acreditar, que o todo que sou, é o que me faz ser diferente. É a minha essência. Não vou contra ela. Não posso.

Mas quero alcançar o estado sereno que me sentir bem com o que tenho. Que não é pouco. Não é mesmo pouco. Deixar de viver a 100 à hora. E saber também apreciar o que os outros me trazem.

Se juntarmos um ou dois momentos bons que aconteceram num espaço de sete dias, poderemos dizer, que somos felizes. Se conseguimos rir, conversar, fazer um trabalho. Se temos a capacidade de fazermos bem aos outros. Então infelizes, é algo que não podemos ser.

Tenho dito.

:)



Os maiores ensinamentos dos pais são aqueles que se ouvem sem ser em forma de conselho. São aqueles que se retiram de conversas numa esplanada qualquer num dia em que o sol resolveu aparecer.

A minha mãe é uma Grande Mulher. Por tudo e por nada. Por ser quem é. Por ter ficado sempre do meu lado mesmo quando lhe foi dificil. Doloroso. Mas ela ficou sempre. Nunca arredou pé. E por vezes, estava aqui de forma invisível. Porque quem é Grande, pode ser invisível. Isto porque, no momento certo, saberemos quem é que foi importante. E ela é. Mais uma vez, por tudo e por nada.

Quando ela me visita, eu permaneço calma. Faz-me bem vê-la feliz. E a fazer coisas de que gosta mas que geralmente só tem oportunidade de fazer comigo. E eu gosto dos meus dias com ela. E da forma como sou feliz, quando ela está perto.

O meu pai sempre me mimou mais. Sempre me fez as vontades todas. Ela era diferente. Não se deixava manipular com o meu charme. Batia com o pé, quando achava que devia. E por essa razão, tivemos muitas discussões no passado. Agora não. Agora eu sou uma filha crescida. Embora, continue a ser muito mimada e insuportável.

Eu desde há muitos anos que escolho as minhas prendas, no aniversário e Natal. Geralmente, (sempre) são coisas caras, em que participam os pais, a avó, a tia e eu. Eu por norma sou indecisa, como quero tudo, quando tenho de decidir, mudo sempre à última da hora, e às vezes, chateio-me e não compro nada. Foi assim no Natal. Queria um ipod. Depois um Iphone. Não comprei nenhum. (as prendas são sempre compradas de antemão porque fico ansiosa). Certo dia de Dezembro, ligo à mãe, a dizer que já tinha encomendado a prenda e dei-lhe as referências para pagar. Depois no dia de Natal, dei-lhe metade do valor. O combinado era este. (credo. leio isto e pareço uma pessoa tão horrorosa. Devo ser, portanto).

O tempo passou. O Ipod e o Iphone continuam na cabeça. Uma vez por semana (que mentirosa, pa! Quase todos os dias!!) vou ao site da fnac, vodafone, e tmn) ver as novidades, à espera que exista uma promoção miraculosa qualquer. lol Not. Evidentemente.

A mãe sabia que eu supostamente receberia um Ipad. Há meses, digo. Este fim-de-semana eu agarrei-me a uma Ipad na fnac. Uma meia hora. A mãe foi dar voltas. Perguntou-me na volta: então, não te iam oferecer? Eu disse que parecia que sim. Mas que não. Não iam. Provavelmente, nunca houve esse objectivo. Porque fazer-me feliz é simples. (ou caro?) Pois.

A mãe de repente diz:

Kikas, nunca devemos esperar que ninguém nos dê o que quer que seja. Nunca. Tu que te queixas sempre das palavras na ausência dos gestos, ainda te ficas com isso? Não. Nós fazemos as coisas por nós. Tu comandas isso, mais ninguém deve ter esse poder. E isto aplica-se em tudo na vida. Já está na altura de aprenderes isso. Ou já te esqueceste destes últimos dois anos?

(raios te partam, que tu és uma mãe do caraças)

De seguida, chamou o Sr. do Ipad, e disse que queria levar um.

É a prenda de anos antecipada, dizia. No dia 1 de Abril, fazemos contas como sempre.

Fiquei/estou tão feliz (és uma fútil, tu pa), que esta noite dormi com a menina Ipad ao meu lado.

E com isto, levei uma grande lição.

Só tu, mummy. Que tu nunca me faltes..

*


What if it does.


*imagem retirada daqui