Raios me partam.






O prédio em ruínas a arder. Faz-me sentido esta imagem. Se fechar os olhos, é assim que me vejo. Estou em processo de desconstrução. É o que está a acontecer. Uma das coisas que fazer terapia traz é isso. A desconstrução do eu. Ruir e ficar em escombros para melhor perceber o que é inato e o que foi implantado. Aos 26 anos estou perdida dentro de múltiplas personalidades que se remontam a várias fases. É como se tivesse perdido o fio e neste ponto, não sei quem sou. Ou melhor, sei algumas coisas mas perco-me noutras. Qual a raiz da essência. Não é bom escavar o passado. Não é bom estar no presente e sentir-me como se tivesse novamente 16 anos. Existem sensações que não deveriam voltar. É isso que retenho. Mas estão a voltar. Em força e sem me ser possível controlar.

Uma das principais questões é ter conseguido reconhecer que estou frágil. A dificuldade é saber aceitar isso. Porque não aceito. Expulsei de mim essa consciência de fragilidade. Não gosto em mim e não tolero nos outros. Quando me deparo com esse estado, fecho os olhos e distraio-me. Para não rejeitar. Para não rejeitar o outro que se sente ou é frágil. Para não me rejeitar a mim. Fico agressiva. Estou agressiva. Há muito que não me sentia assim. Agressiva com vontade de partir tudo. Se partir tudo, sentirei a dor física e isso fará com que chore. Preciso de chorar. Mas canso-me constantemente dos meus limites enquanto ser.

Não estou pedra porque sinto tudo na flor da pele. Não gosto disto. De sentir tudo. De me sentir exposta. Só me ocorre dizer, que isto não sou eu. Mas e se for? E se afinal sou assim? Não gosto. Rejeito. Não posso ser assim. Merda.

Poderia achar que o melhor seria despir as máscaras. Mas isso é algo que não sei fazer. São demasiado eu. Já não consigo despir a pele que não era minha mas passou a ser. Sinto necessidade de construir novas peles e agir de modo diferente. Mas como? Como realizar esse querer?

Sinto-me incapaz de avançar e dar de caras com um mundo novo. Quero dar-me a conhecer mas é como se tivesse perdido a sensibilidade necessária. Só me ocorre dizer, foda-se para mim.


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