Eu gosto de estar sozinha. Eu gosto de estar em casa sozinha. Eu gosto de ter dias em que a única coisa que tenho que fazer é organizar a roupa para que o Sr. da lavandaria a venha buscar. Eu gosto dias de inércia mesmo que esta apenas consiga durar 2 horas. Porque mal chega a madrugada eu recordo-me que faltam horas poucas para entrar num novo dia. Eu devia ficar contente por ter a possibilidade de ter novos dias. E já fiquei. Mas agora não. Não fico. Não me traz nada de novo. Acho que fico chateada por dormir pouco. Não me custa a sorrir hoje em dia. Eu gosto de sorrir e rir e conversar. E essas coisas que todos os comuns mortais fazem. Mas não me chega. É isso. A ideia é essa. Nada me chega porque nada me preenche. E tudo parece algo distante. Algo longe de mim. Que estende a mão mas na verdade só se afasta mais e mais.

Eu devia já estar em casa a esta hora. Seria normal estar. Tenho imenso trabalho, é verdade mas não precisava de sair tarde. Podia sair à hora normal. Não consigo. Saio tarde porque assim canso-me e fico com menos tempo para pensar. Claro que cansar-me não me faz respirar mais. É estúpido. Se calhar, com os anos fiquei estupidificada. Acho que é possível. Se não for, paciência. Não é coisa que me preocupe.


A ideia é que eu gosto de estar sozinha mas não gosto do tempo em que estou sozinha porque penso. E eu estou cansada de pensar.


Why is everyone a pussy?



Eu quero escrever sobre uma coisa mas não posso. Porque envolve outras pessoas. Mais: não me envolve sequer a mim. Mas relembra-me o meu passado. (aliás todo o meu passado, todo) Traz tudo ao de cima. É como se estivesse a passar tudo de novo. Toda a destruição de mim, todas as mazelas, a dor. Faz-me mais insensível e mais descrente. Toda a puta da impotência. Foda-se. Só me lembro disto. Da puta da impotência. Porque por vezes o que mais queremos, não está nas nossas mãos. Está nas de outra pessoa. E existem duas opções, esperar, deixar que a raiva, a mágoa tome conta de nós ou fechar a porta. E ao fechar a porta, fechamos tudo. Fechamos-nos também a nós. Mais do que antes. Estamos prontas para arder com todo o podre que ficou. E depois como é voltar a acreditar? Que tudo será diferente? Que aquela pessoa está ali, lutou e merece tudo de nós? Porque não ficou indiferente à nossa dor, nem se preocupou com dores alheias, porque percebeu o que era nos perder, lutou e decidiu-se. Decidiu-se por nós!

Foda-se.

Porque é que a puta da vida, não pode ser mais fácil?
E as pessoas, bem menos complicadas?
Porque é que os sonhos, tão imaginados, tão reais aos nossos olhos passam uma vida inteira sem serem concretizados?

Porque raio é que as pessoas insistem em sentir a dor da perda? 
Em arrependerem-se para o resto dos dias?
Em foder tudo o que pode ser especial?

Foda-se! Fico verdadeiramente doente com isto.

Ao ponto de querer cuspir a vida.

*imagem retirada daqui





A Paixão




"Subitamente pensa: isto é um pesadelo. "Como se me movesse por dentro de mim; os passos feitos, elaborados em câmara lenta, as pernas pesadas, que tento, que vou arrastando". Entende, finalmente, que parte dela se expõe e se torna exterior, mas que outra parte se mantém oculta, aparentemente adormecida e inerte, embora pulsante. numa espécie de hibernação, à espera.
 
Como vai ela aguentar os desequilíbrios, os ventos raivosos, as chamadas ateadas da paixão? tudo dentro dela está a ficar remexido: o que "há séculos dormia" enterrado, esta a vir ao de cima.
Em carne viva."

Maria Teresa Horta in  A Paixão Segundo Constança H.

*imagem retirada daqui


21/01/2011


Pergunto-me se as pessoas tivessem um tempo certo de vida, seriam as coisas diferentes? Ficaria a complicação, os dramas, os medos, as inseguranças de lado? Saberiam viver as coisas, sem merdas de jogos e perdas de tempo (contra a mim falo), e aproveitando tudo? Indo em frente, arriscando? Como é que seria? Ou pelo contrário, não mudariam nada. Ficavam agarradas ao drama que a vida vai acabar e sou uma pobre coitada, ai ai ai.

Hoje vou à terapeuta. Thank God!

*imagem retirada daqui




A lua cheia deve andar por aí.



Mordaz. Caótico. Intenso. Contra a parede, contra o chão, contra a janela. Derrubando roupas, pudores, silêncios. Colar o meu corpo à boca do inferno. e ser torturada de prazer. até conseguir chegar ao ponto de dizer, chega. porque nunca o disse. por controle. unicamente por controle. cobardia de achar que não me deixar ir, era estar em segurança. frenética, gulosa, serpente. ser desenhada em exaustão. em pecado apetecível. sim, é vontade minha ser comida no inferno.

Calafrios



Hoje de manhã fui acompanhar uma amiga minha a um senhor que é especialista em jogar búzios (há um nome especifico, é uma técnica muito antiga, ao que percebi de uma tribo). Eu desde sempre que gosto deste tipo de coisas. É algo que sempre me puxou. Não acredito em qualquer coisa, do género bolas de cristal ou até tarot. Sou mais descrente. Muito porque acho que as respostas que dão são influenciadas pelo que  antes ouviram. Portanto, eu prefiro sempre calar e ouvir. 

Hoje fui apenas acompanhar. Nada mais do que isso. Durante algum tempo estive na sala, depois saí e regressei. Ao terminar da consulta, o Sr. vira-se para mim e diz-me isto:

A si só quero dizer uma coisa: quando achar que deve parar, pare.

Identificou em mim uma deusa (o nome é um pouco imperceptível), que supostamente é a deusa das paixões e do amor (claroooo).

Acrescentou: Você tem imensa gente à sua volta. Mas essas dúvidas, essas incertezas, esses medos... esses medos. Oiça, é que as pessoas apaixonam-se mesmo por si mas você... mal sente alguma coisa a puxar, a prendê-la. Foge. Portanto, pare quando achar que é altura.

Percebi-a de imediato. Você é uma marota. (LOLLLLLLLLLLLL).


Pronto. O que ele disse, não é nada que eu já não saiba. Mas gosto sempre quando as pessoas têm a capacidade de me ler, sem eu dar por isso sem ter informação bastante para o fazer, e de dizerem coisas, que não estou à espera de ouvir de um desconhecido. Valeu por isso. 

:)






É porque a fé te saiu das mãos.

Falávamos de abismos. De dar a ponta dos dedos mas não a mão toda. Falávamos dos anos que existem em nós. Anos que não vivemos. A idade que não temos. A dor que nos atormenta mas que não devia existir. Somos jovens. Deveríamos ser jovens. Não ter a preocupação de querer tudo. Porque deveríamos saber ir devagar. Mas faz muito tempo que não sabemos ir devagar. É no abismo da descrença que estamos. Mas ainda existe a fé. Sim a fé existirá sempre. Não estamos no mesmo barco das pessoas que se acomodam. Que aceitam qualquer pessoa. Que se atiram para partilharem uma vida com uma pessoa que não é a pessoa. Mas foi a melhor que encontraram. E aí pensam que dão um murro na solidão. Engano certo. Fazem planos, promessas, gastam palavras e se auto-intitulam de felizes. Mas não são. Tu e eu sabemos que não são. Desejam o mediano e foi isso que tiveram. Quem aceita por menos do que o tudo não é feliz. No máximo é quase feliz. Será sempre um quase. Nunca um tudo. Não o pode ser. Não é isso que é a paixão. E de todo não será isso o amor.

Foi pela palavra que me dei. Foi pelo corpo que me assumi. Mas nunca pelo gesto eu enredei. Desculpa. Engano-te. Existiram duas excepções. Em que o gesto implodiu na palavra e o tudo nasceu em mim. Mas tu sabes como é fácil chegar pela palavra às pessoas. Como é fácil abrir um coração dessa forma. O falar. Como é fácil falar. Dizer. Discursar. Amar sem amar pela sílaba. O depois. É no depois da palavra assentar que pode ou não acontecer o momento. O começo. É no reconhecer do gesto que se dá a entrega. Agora diz-me. Quantas pessoas reconheceram os teus gestos? O passo que dás. O salto. A entrega. Quantas? Decerto, não saberás. Ou pelo contrário, tens o número em ti. Porque aí o inefável aconteceu. Sei que sim.


Dizia-te. Não me custa o primeiro passo. A troca de corpos. A presença inocente que se vai criando. Nada disso me assusta. Até gosto. Sim, ainda me acontecem as borboletas no estômago. O que me persegue é a continuação. A presença. A permanência. O estado das coisas e a sua constante mutação. Ou melhor, a estabilidade. A calma. A paz. O início da partilha. Ao fim ao cabo tudo é partilha. Interrogo-me aqui. Porque sinto-me incapaz. Tu entendes. A incapacidade que te prende os músculos, que te amortiza o coração, que desfalece a esperança. Que faz com a tua fé seja apenas um prato desfeito em cacos pelo chão.

Dói-me o desatino que me causa esta lucidez de mim. Mais do que me dói, a desilusão daquele que acreditou na amostra que tu lhe ofereceste.

Quanto tempo demorará este abismo?
Quanto mais tempo levará a nossa entrega?

De quanto mais de nós temos de perder para renovarmos toda a escuridão que nos afasta cada vez mais da vida?


(texto escrito em 12/08/2010 e um dos meus favoritos)

*imagem retirada daqui


 


A deceived heart is more hurtful than a broken one.
 
*imagem retirada daqui 
 
 

13/01/2011




Ela não sabia dizer as coisas. Tinha esse pequeno e incómodo defeito. Falava muito mas não sabia dizer as coisas. Era directa de mais. E desse modo, as palavras eram ditas de uma rajada. Sem pintura. Sem risco preto e batom. Mesmo que de cor transparente. Era bruta nas palavras e quando as dizia não respirava. Eu assustava-me com isso. Porque precisava de segundos para digerir. Por vezes, para repetir as palavras em silêncio e assim conseguir ter tempo de as pensar. Lembro-me que um dia numa discussão disse-lhe aos gritos que se ela usasse a força bruta das suas palavras para me encostar à parede e comer-me como eu lhe pedia, eu nunca teria vontade de ir embora. Acusou-me de dar mais importância à carne do que ao que me dizia. Porque para ela, o que era dito era sincero, fosse a que velocidade. E por tal, teria de ser entendido como algo bonito. Mas não por mim. Eu não conseguia.  Das vezes que disse que gostava de mim, apeteceu-me chorar. Aquela falta de tacto. Aquela secura a roçar o abandono. Os olhos parados como se drogados. Não. Assustava-me que a pessoa por quem eu sentia amor não me conseguisse fazer sentir a reciprocidade com a voz. com sílabas. Só com o corpo. Mas no corpo eu não queria amor. Ou cuidados. Ou ternura. Não era isso que o meu corpo procurava. E por mais que lhe tentasse explicar, todas as noites, chegava até mim com mãos de paz, com voz de leite podre, e sem a brutalidade animalesca que eu quando fechava os olhos, sonhava estar ali a meu lado. Expliquei-lhe. Mas não era possível transferir momentos. Deixei de lhe fazer perguntas que nos envolvessem. Deixei de querer furar-lhe os tímpanos com os meus gritos de prazer. Mordia os lábios e expulsava-a de dentro de mim. E depois, garantidamente que não era contigo que eu dormia. Lamento. Ou não.

No dia em que decidi sair de casa, deste-me uma prenda. Prendeste-me as mãos com o cinto que tinhas nas calças. Rasgaste-me a roupa. Deixaste pelo meu corpo a marca dos teus dentes. E fodeste-me como nunca antes. Vi-te animal. Besta. Abrupta força a esvair-se pelo teu sexo. Nessa noite, eu dormi contigo e tu comigo. E ao fechar das horas, madrugada dentro, disseste-me: Era isto que tu me pedias? Respondi-te que sim. E depois abraçaste-me como se abraça alguém que sabemos que está perto de partir. Com tudo o que temos de melhor em nós e nunca conseguimos partilhar. Até ser tempo de despedida. E assim foi, no dia seguinte, depois de te teres vindo na minha boca, eu fui embora.


*imagem retirada daqui


é . .





angustiante não escrever. mais se torna, quando recordo os meus momentos de escrita. não o momento em que as ideias surgiam mas sim o impulso que fazia decidir-me pelo tactear dos dedos no teclado de um computador. esse momento em especifico, muitas vezes, premeditado com o maço de tabaco ao lado e um copo de vinho. Presentemente, nada mais é que uma memória. que incomoda. como uma voz que no meio da multidão se irrompe e em som sonante me questiona porque raio nunca mais cumpri esta rotina. é. ou melhor, era uma rotina daquelas sem dia marcado mas que eu sabia que não demoraria muito a voltar a acontecer.

não me posso obrigar. porque quando o faço corre mal. sai tudo torto e sai sem o meu nome. tenho me vindo a aperceber que tenho perdido a força da escrita. ela não sai igual. retenho isto quando me leio noutros blogues e tenho saudades. tenho muitas saudades. mas sei que não me posso obrigar. e o velho hábito da escrita voltará a casa quando assim tiver de ser. quando algo me chamar para tal. e aí, sem qualquer obrigação, surgirá. de forma natural e sem ser adulterada (adoro esta palavra). e saberei nesse dia que existem angústias que passam. que simplesmente passam quando acontece algo. quando um passo é dado. a palavra certa é dita ou ouvida. os olhos se abrem como nunca antes acontecera.

e isto transpõe-se para as desilusões, mágoas e medos. muitas vezes, começam a ficar resolvidas e a escolherem outra vida que não a nossa para habitarem, quando algo acontece com a força exacta e suficiente para nos fazer agir, e assim termos a coragem e o poder,  para começar um trajecto de limpeza de habitantes não desejados mas já muito antigos e entranhados.

e aí nessa altura, possamos nós ter a ousadia de nos perdoarmos pelas vezes e vezes que usamos os nossos medos, mágoas e desilusões como bengalas para deixarmos de ser em nós, nos outros e no mundo.

tenho dito.

*imagem retirada daqui 


The Story of my life



Alicia: I'm Sorry

Will: Alicia, it's fine. We have bad timing. We always had... bad timing.


The Good Wife quotes

*imagem retirada daqui

Mais um ano que começa muito bem.




Foda-se. Foda-se. Foda-se.

Mas

A Mágoa

A Desilusão
A Raiva
A Descrença
A Puta do Azar

Desaparecerão algum dia?

Estou farta!



*imagem retirada daqui

Isto. 2011.


Escrito em 29/12/2010:
 
Tudo na entrega relaciona-se com o poder do auto-controle. Se entendermos a ideia da sobrevivência como um escape à vulnerabilidade perante o outro, então estaremos bastante longe de nos conseguirmos expor, abrir emocionalmente a alguém. A medida da nossa entrega será a medida do que seremos capazes de receber. Mesmo que nunca cheguemos a ter o que merecemos. Mesmo que a partir de certa altura, tenhamos o coração preso por um fio de sangue ao nosso corpo. Se a entrega for feita, então estaremos aptos a receber.
 
A estender a mão com uma chaves, e um convite. Não para passar a noite mas sim um convite a que nos descubram nos dias, nas noites, nos momentos replandescentes e nos momentos de abismo. Um convite a nos terem na nudez do que não queremos, alías, do que deixamos de conseguir esconder.

É isto que tenho vindo a descobrir. A certeza que por detrás de uma mente fodida e de um coração exausto, ainda me é possível escolher entregar-me a alguém. Leve o tempo que tiver de ser, ainda é possível. E nesta possibilidade, eu sinto-me mais eu que nunca.


"Tinha o vento contra a cara e as nuvens e as ondas do mar por conta própria. Sofria muito de amores e não havia amor que durasse que não magoasse. Jurava-me que um dia viria a não ser eu, sem saber o que dizia, sem antecipar a ilusão. Para me vingar de quem não gostava de mim, em primeiro lugar da minha mãe. E agora a dor de ser já quem se não queria, ultrapassada a irremediável distância que vai do desejo ao seu fim, sem nada mais poder adivinhar. Saudades de mim. De quem nunca fui."
 
Pedro Paixão in Quase gosto da vida que tenho 
 
 
Existem dias em que duvido que sinta o que quer que seja. Porque não me consigo expressar. Não consigo dizer as palavras que se travam no segundo anterior a serem voz. Sou confusão, manipulação de mim próprio. E prefiro não me conhecer neste exacto momento, do que falar e agir. Sou um risco. Sou um risco.