Scarlett Independente (SI): tens de tomar uma decisão!
Scarlett Autobiográfica (SA): Decisão?
SI: sim, se acreditas ou não no Amor.
SA: Não sei tomar uma decisão dessas. Posso dizer que acredito na ideia que tenho do Amor. Na forma como o meu sentir me faz desenhá-lo, erguê-lo e fazer dele uma casa. A minha casa.
SI: és sempre confusa e Idealista.
SA: É exactamente por ser assim que sinto os meus pés bem assentes no chão que piso.
SI: qual é a primeira coisa que falha na tua ideia do Amor?
SA: A expectativa.
SI: continua.
SA: Cada qual tem a sua ideia própria do que é ou do que deveria ser o Amor. as expectativas. as exigências. Nem sempre o que é para ti o amor, é para outra pessoa.
SI: há quem confunda a paixão com o amor.
SA: Sim, concordo. Eu nunca tive uma paixão ou um amor completo. tudo foi vivido aos pedaços. tudo condenado à partida. como se fosse um sentir amputado, porque faltava-lhe sempre alguma coisa muito importante e imprescindível.
SI: a descrença.
SA: Isso veio depois e mesmo assim relativamente cedo.
SI: tens 26 anos.
SA: E quantos anos de ideias fixas e de estradas cortadas ao meio?
SI: pois.
SA: O amor e a paixão ficam sempre aquém. não entram pela porta certa. ficam-se pela entrada principal ao invés de subirem até sótão. entregam-se à primeira falha. discussão. desilusão. um amor/paixão assim não existe. é apenas aparência.
SI: filosofias?
SA: não. vai dar tudo ao mesmo. gestos. tudo na vida precisa de ser demonstrado. primeiro sente-se. depois demonstra-se. é assim que se alimentam as coisas importantes. senão, é apenas uma ida à manicure ou cabeleireiro. as coisas perdem segurança e substância. não há nada que se segure sem uma prova. senão ficamos pela metade. sempre pela metade.
SI: alergia às palavras?
SA: As palavras podem ser o começo. nunca o meio. nunca a felicidade. nunca o extâse. as palavras guardam-se como um bonito presente que nos entregue. mas esse presente não pode ser o mote, não pode ser o espelho exterior do que se passa no interior. já me disseram tanta coisa mas tanta coisa que no final de tudo apercebi-me que aquelas palavras não tinham qualquer valor, qualquer mérito porque no dia D não fizeram a diferença. quando as palavras entram em jogo com a ausência de gestos, a memória vai ficando esvaziada de sentido. e se tu olhas para trás e perguntas-te: o que é que isto me trouxe ou traz de bom se não existe nada a não ser uma face cravada no peito e mil livros de palavras? Para se perdurar a paixão, o amor é preciso transforma-lo em gestos, é preciso ceder, compreender as coisas mais esquisitas no outro e mesmo assim gostar e querer ficar. mas repara, a única coisa que tem necessariamente de ser constante é o que se sente em gestos. o resto, é decoração.
SI: já te passaram as insónias?
SA: já.
Amei
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