Nothing to lose.



É uma história minha. Tão minha como cada membro do meu corpo. Mas é preciso contá-la como se fosse uma história de terceiros. sem qualquer ligação a mim. Para que possa usar as palavras correctas, sem grande traço de ternura, ou emoção. Sim, contar esta história como se fosse uma história de um estranho. Sem qualquer pingo de sensibilidade. Não consigo. Assumo desde já o fracasso. É impossível expor esta história, sem que me emocione. Não choro. Mas emociono-me. O que me parece ser pior. Olhos molhados é uma vergonha maior do que lágrimas que caem. é como se me faltasse a coragem de chorar. O que seria pouco correspondente com a realidade, porque se há coisa que eu tenho, é coragem, Ou tomates. sempre gostei desta palavra. Na terapia, quando estava a contar as minhas últimas ligações físicas/amorosas/emocionais, contei esta história.  Lá fiquei com a puta dos olhos emocionados. Disse-me que na opinião dela, eu ainda não te tinha ultrapassado. Eu sorri. Expliquei que a porta estava fechada entre nós mas que as imagens do que havíamos partilhado (que convenhamos em espaço temporal foi tão pouco, mas de intensidade, não sei. classifico como arrebatador), continuava a visitar-me de olhos abertos e fechados. Uma merda, portanto. Mas com o pormenor de me fazer sorrir. Sou otária, é isso?

Depois ocorre-me perguntar-te se tens conhecimento que te comparo a todas as mulheres. O que é um horror, porque nenhuma delas és tu. O que me faz recordar aquilo que certa noite me disseste. Algo como que eu estaria léguas acima de ti. algo deste género. lembras-te? Isso foi  importante. Porque na altura eu julgava-me uma merda e tu fizeste-me considerar que provavelmente sempre seria alguém especial. Lamento, se não te dei a entender o mesmo. O quão eras especial em mim. Falo tanto e às vezes, acabo por calar, provavelmente o mais importante. Ou não. Eu disse-te tanto naquele e-mail. Foi como se me estivesse a despir lentamente, sem a tua ajuda. Foi horrível, confesso-te. Mas não me arrependo.

Há já algum tempo, que tu tens uma vida. Eu tenho outra. Nada de semelhante. Vemos-nos de vez em quando. Sorrimos. Trocamos palavras de circunstância em segundos. Acho que vou começar a contar os segundos. Continuo a foder-te com os olhos sempre que te vejo. às vezes, não é preciso ver-te. Basta imaginar-te. Posso estar a caminhar na rua e isso acontecer. Doentio? Se calhar, sou doente. Também, acontece-me ficar enternecida quando olho para ti, e vejo-me simplesmente a abraçar-te. apenas isso. Quando posso, faço por tocar-te. Que posso dizer? Há coisas incontroláveis. As minhas desculpas desde já. Poderia classificar-te como uma tentação. Ponto. Serias carne que me tinha deliciado mas que não voltaria a repetir. Houve um tempo na minha vida em que as mulheres eram peças de carne, e a classificação dependia do nível de satisfação. (isto foi horrível, não foi? mas mais directa, seria impossível. Para quem possa interessar, já não sou assim. Já não classifico mulheres nem as resumo a alimentação). Tu serias um número um. Enchias-me as medidas, que não são poucas. Superavas-te e acho que nunca percebeste isso. Devo lamentar? Pois.

Tivesses tu continuado como carne e teria tudo corrido bem. Tivesse eu ficado calada? Estupidez. Mais transparente do que fui, não podia. Acho que nunca me vou conseguir calar. Controlar, talvez. Já me controlo em tantas coisas. Seria mais uma, certo?

Supostamente, ia contar a história. Merda, sou tão confusa.

Prefiro, não contar.

Apenas posso dizer que não sei se saberia fazer as coisas de outra forma.

Poderia ter-te facilitado mais a vida, mas eu não faço isso. Eu complico. É a minha natureza.

Gostava de um dia acordar e achar que foste um erro. Confesso. No entanto, é impossível ter sido tão bom e ao mesmo ser um erro.

Não, não foste um erro.

Mas lamento que o prazo de validade tenha sido tão curto.

Ter-me-ia sido fácil decorar todos os caminhos, os planos e os cheios de tráfego, para chegar até ti. E é nesta medida que sei o quanto deixaste em mim.


Pronto. Era isto.

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