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Estou para escrever sobre isto há algum tempo. Acho eu. Penso que sim porque em certas altura consome-me. No presente momento, consome-me. E ao mesmo tempo que preciso de resolver isto (haverá alguma altura da nossa vida em que deixamos de resolver o que quer que seja? Sim, quando morrermos), preciso de escrever. Escrever tem sido o primeiro passo. Supostamente, eu estou bem. Estou diferente, estou melhor. Eu acho (ou talvez não), os que me rodeiam também. Eu faço por estar melhor. É uma luta, bem sei. Mas eu preciso de ficar bem. Não sei de quê. Não sei qual o meu problema. Ainda não sei. Sim, eu complico. Se calhar é isso. Mas então alguém que me explique o que é isto que tenho dentro de mim e me faça o favor de arrancar. Porque se eu não entendo, eu não o consigo resolver.

O que sinto. Posso começar por aí. Eu sinto uma perda. Ou Várias. Mas é isto que tenho vindo a sentir ano após ano. Perdas, desilusões, perdas. E estou cansada. Demasiado. Porque perder o que não nos faz bem, não devia ser mau, certo? Pois. Então e isto que eu sinto? Como se grande parte da minha vida fosse um funeral. Foda-se.

Sempre fui solitária. Os amigos não enchiam a palma da mão. Sempre percebi que ao longo dos anos as amizades vão-se perdendo. Eu foi perdendo amigos à medida que eles iam-se metendo em relações. Depois as relações terminavam, e eles voltavam. Mas eu já não estava lá. Porque tinha decidido partir. Não sou boa a esperar. Não sou boa a estar ali à mão. Por mais que já tivesse desempenhado esse papel. Depois os amigos quando voltam, dizem olha já aqui estou. E eu olhava e percebia que já não havia espaço para eles. Porque eu avancei. Também se avança nas amizades. O tempo faz esse papel. Eu fui-me habitando. Depois passado anos, esses tais amigos lembram-se e dizem que têm saudades. E eu respondo que também tenho. Sim dos tempos idos, mas no agora o que há? nada. memórias, apenas.

Lembro-me que quando tive a primeira relação de namoro (e única?) afastei-me de todos os meus amigos. Deixei-me ser engolida nessa coisa que são os primeiros tempos de um namoro. Os constantes mimos. O sexo mais de uma vez por dia. As palavras bonitas (e tantas vezes vazias). Os planos. Essas coisas. Quando a minha relação acabou, os amigos mantiveram-se. Com a excepção de alguns. Prometi a mim própria nunca mais deixar a minha vida por mais ninguém. Até hoje cumpri. Mas também, nunca mais consegui ter uma relação normal com ninguém. A não ser que se considere "normal", as fodas de uma noite, os casos, as coisas mal resolvidas. Enfim. Algo do género.

Este ano senti a perda (desilusão?) de um dos meus melhores amigos que se apaixonou, começou a namorar e desapareceu. Sei que já não está a namorar. Mas não o voltei a ver. E sei que ele voltará porque as mágoas têm de ser contadas a alguém. Ele voltará e eu irei recebê-lo porque não passou tempo suficiente para eu achar que já não há espaço. E ele estará presente até que comece a namorar de novo. (ou eu? Também há essa hipótese. Mesmo que eu não consiga acreditar. Racionalmente. Porque emocionalmente acredita-se até ao fim.) A amizade poderá ser entendida como o cais de regressos e partidas? Pode.

Pela primeira vez na vida tenho um grupo de amigas a sério. A que chamo família. Durante 1 ano e meio fomos todas solteiras com intervalos de coisas das acima referidas. Mas nunca nos afastamos. Foi como se uma promessa tivesse sido feita. Na verdade não foi. Mas a ligação era forte demais. É como se assim se entendesse. Eu nunca tive um grupo de amigas, portanto, tê-lo fez muito feliz. Foi como se pela primeira vez na vida estivesse preenchida em algo. Sentirmos-nos preenchidas é do mais bonito que se pode sentir. Foi a primeira vez que o senti. Por isso, chamei de minha família.

Neste momento, sinto uma perda. Como se me tivessem arrancado parte de mim. Porque a vida mudou. Estamos perante uma fase de mudança. E mudança não tem de ser mau. Não tem. Mas a adaptação é horrível. E eu depois tenho esta coisa horrível de antecipar cenários. E o que eu antecipo não é bonito. Acolhedor. É solitário. As relações mudam as amizades. O tempo dedicado à amizade passa a ser curto. Demasiado curto. As ligações mudam. Porque de repente, os nossos amigos deixam de ser apenas eles. São eles e mais uma pessoa. E tudo fica diferente. Acho que no fundo, queremos acreditar que tudo irá permanecer igual. Mas não, não é assim. Tudo muda. Depois é preciso. Adaptar. Ajustar. E entender que nada deve ser tomado como garantido. Aceitar não é fácil. Não é. Sorrir quando se sente uma perda, muito menos. E depois ter as memórias. E perceber, que o presente mudou. E o futuro ser ainda mais diferente.

Nao estava preparada para ter de voltar a mim tão cedo. Não estava. Porque já não sei como se faz. Já não sei como fazer para me sentir bem sozinha.

(E se eu ficar para tia (as probabilidades são muito altas), nem pensem que vou cuidar dos vossos filhos todos)

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